quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

COMO FUNCIONA A CAMPANHA ELEITORAL NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


O presidente americano, George W. Bush, ainda tem mais de um ano de mandato pela frente, mas a corrida por sua sucessão está cada vez mais quente -- nos dois grandes partidos americanos, a disputa pelo poder em 2008 já reúne caixas milionários para as campanhas, comícios e viagens dos maiores concorrentes. Os primeiros debates já ocorreram -- e agora é hora de escolher quem disputará a eleição. Entenda o processo, desde a corrida pela indicação partidária até o dia da votação (em 4 de novembro):
1. Quando os eleitores americanos elegerão o seu novo presidente?2. Por que os pré-candidatos começaram essa campanha tão cedo?3. Como funciona o processo de eleição do presidente americano?4. Por que a escolha do presidente não é feita pela votação popular?5. Como os candidatos são indicados por democratas e republicanos? 6. Qual é o calendário das indicações dos dois principais partidos?7. Quem são os concorrentes mais fortes até o começo das primárias?8. Qual é o favorito entre os pré-candidatos da oposição democrata?9. Qual é o favorito entre os pré-candidatos republicanos (governistas)?10. Qual será o papel de George W. Bush e Dick Cheney na eleição?11. Qual é o peso da guerra do Iraque para a campanha presidencial?12. Quais são os outros temas em destaque na campanha até agora?13. Qual é a tendência sinalizada nas primeiras pesquisas de opinião?14. Qual resultado é melhor para o Brasil? Democrata ou republicano?
1. Quando os eleitores americanos elegerão o seu novo presidente?
A eleição está marcada para 4 de novembro de 2008. O pleito indicará o 44º presidente dos Estados Unidos, pois o atual ocupante do cargo, George W. Bush, do Partido Republicano, não pode concorrer outra vez -- ele já foi reeleito em 2004, quando derrotou John Kerry, do Partido Democrata. Ao contrário do que geralmente ocorre nos EUA, onde um presidente reeleito costuma apoiar seu vice na eleição seguinte, Dick Cheney não será candidato. Por escolha própria, o vice de Bush abdicou da disputa antes mesmo da votação de 2004 (quando Bush chegou a cogitar a troca de seu companheiro de chapa). Será a primeira eleição sem um presidente ou vice em 80 anos.

2. Por que os pré-candidatos começaram essa campanha tão cedo?
Por causa da realização das eleições primárias, no início de 2008, e da busca de recursos para financiar as campanhas, a corrida começou nos primeiros meses de 2007. Em primeiro lugar, os pré-candidatos precisavam ganhar projeção nacional (em palestras, comícios e viagens) e viabilizar uma candidatura vitoriosa. Só assim teriam chances de chegar às primárias com força. Em relação à arrecadação, é uma necessidade legal. A legislação eleitoral americana é muito rigorosa no controle das doações feitas pelos simpatizantes de cada pré-candidato. Para poder receber qualquer valor, o político que almeja chegar à Casa Branca deve obrigatoriamente formar um "comitê exploratório", tornando oficial sua intenção de concorrer.

3. Como funciona o processo de eleição do presidente americano?
O presidente não é eleito por voto popular, mas sim por um colégio eleitoral. O colégio tem 538 votos, divididos entre os estados. Em quase todos, o vencedor do voto popular leva todos os votos do colégio eleitoral do estado. Na eleição de 2000, Bush venceu assim: mesmo tendo menos votos que o rival Al Gore na soma do país todo, foi o mais votado na Flórida, e levou todos os votos do colégio eleitoral naquele estado. A distribuição dos votos no colégio é feita de acordo com o número de deputados e senadores de cada estado. O estado mais populoso, a Califórnia, tem 55 votos no colégio (ou cerca de 10% do total, apesar de abrigar 12% da população americana).

4. Por que a escolha do presidente não é feita pela votação popular?
O sistema de colégio eleitoral é uma velha tradição americana, e por isso jamais foi alterado. Ele surgiu na constituição de 1787, quando os treze estados que formavam o país na época não quiseram entregar a eleição do presidente ao povo. Assim, cada assembléia legislativa estadual ficava encarregada de votar no colégio. Com o tempo, os membros do colégio passaram a ser apontados pelos partidos e, em seguida, pela votação popular -- o que ocorre até hoje. De tempos em tempos aparecem tímidas propostas para mudar o sistema. A possibilidade de transformação, porém, é considerada remota, pelo menos a curto e médio prazos.

5. Como os candidatos são indicados por democratas e republicanos?
Através das convenções dos partidos, em que delegados de todos os estados se reúnem e indicam quem é o candidato de sua preferência. Os delegados, por sua vez, são escolhidos nos meses que antecedem as convenções, em votações primárias e assembléias ("caucuses"), nos estados. Nas primárias, os eleitores filiados a cada partido vão às urnas -- de forma voluntária -- e indicam qual candidato preferem. Na assembléia, ou caucus, os eleitores se reúnem em locais públicos ou residências, discutem qual é o melhor nome e optam por um deles. A porcentagem de votos nas primárias e de adesões nas assembléias corresponde ao número de delegados enviados à convenção para defender cada candidato. Na prática, o favorito dos seguidores de cada partido é apontado pelos próprios eleitores e depois consagrado publicamente nas convenções.

6. Qual é o calendário das indicações dos dois principais partidos?
De janeiro a junho, as assembléias e primárias indicam os delegados para as convenções. Por volta de março, contudo, os candidatos geralmente já estão definidos, e as primárias restantes passam a ter valor apenas simbólico. Entre 25 e 28 de agosto, os democratas realizam a sua convenção, em Denver, Colorado. Entre 1 e 4 de setembro, é a vez dos republicanos, em St. Paul, Minnesota. Com os candidatos escolhidos, a campanha começa oficialmente logo em seguida. Depois da votação de 4 de novembro, os integrantes do colégio eleitoral se reúnem em 15 de dezembro para confirmar o vencedor. No dia 6 de janeiro de 2009, o resultado oficial é apresentado ao Congresso dos EUA. Em 20 de janeiro, o novo presidente é empossado. A seguir, todas as datas das assembléias e votações primárias:
DATA
ESTADO (TIPO)
DEMOCRATAS
REPUBLICANOS
Janeiro
Dia 3
Iowa (assembléia)
sim
sim
Dia 5
Wyoming (assembléia)
--
sim
Dia 8
New Hampshire (primária)
sim
sim
Dia 15
Michigan (primária)
sim
sim
Dia 19
Nevada (assembléia)
sim
sim
Dia 19
Carolina do Sul (primária)
--
sim
Dia 26
Carolina do Sul (primária)
sim
--
Dia 29
Flórida (primária)
sim
sim
Fevereiro
Dia 1
Maine (assembléia)
--
sim
Dia 5
Alabama (primária)
sim
sim
Dia 5
Alaska (assembléia)
sim
sim
Dia 5
Arizona (primária)
sim
sim
Dia 5
Arkansas (primária)
sim
sim
Dia 5
Califórnia (primária)
sim
sim
Dia 5
Colorado (assembléia)
sim
sim
Dia 5
Connecticut (primária)
sim
sim
Dia 5
Delaware (primária)
sim
sim
Dia 5
Geórgia (primária)
sim
sim
Dia 5
Idaho (assembléia)
sim
--
Dia 5
Illinois (primária)
sim
sim
Dia 5
Kansas (primária)
sim
--
Dia 5
Massachusetts (primária)
sim
sim
Dia 5
Minnesota (assembléia)
sim
sim
Dia 5
Missouri (primária)
sim
sim
Dia 5
Nova Jersey (primária)
sim
sim
Dia 5
Novo México (assembléia)
sim
--
Dia 5
Nova York (primária)
sim
sim
Dia 5
Dakota do Norte (assembléia)
sim
sim
Dia 5
Oklahoma (primária)
sim
sim
Dia 5
Tennessee (primária)
sim
sim
Dia 5
Utah (primária)
sim
sim
Dia 9
Kansas (primária)
--
sim
Dia 9
Louisiana (primária)
sim
sim
Dia 10
Maine (assembléia)
sim
--
Dia 12
Distrito de Colúmbia (primária)
sim
sim
Dia 12
Maryland (primária)
sim
sim
Dia 12
Virgínia (primária)
sim
sim
Dia 19
Havaí (assembléia)
sim
--
Dia 19
Washington (primária)
sim
sim
Dia 19
Wisconsin (primária)
sim
sim
Março
Dia 4
Ohio (primária)
sim
sim
Dia 4
Rhode Island (primária)
sim
sim
Dia 4
Texas (primária)
sim
sim
Dia 4
Vermont (primária)
sim
sim
Dia 8
Wyoming (assembléia)
sim
--
Dia 11
Mississippi (primária)
sim
sim
Abril
Dia 22
Pensilvânia (primária)
sim
sim
Maio
Dia 6
Indiana (primária)
sim
sim
Dia 6
Carolina do Norte (primária)
sim
sim
Dia 13
Nebraska (primária)
sim
sim
Dia 13
Virgínia do Oeste (primária)
sim
sim
Dia 20
Kentucky (primária)
sim
sim
Dia 20
Oregon (primária)
sim
sim
Dia 27
Idaho (assembléia)
--
sim
Junho
Dia 3
Montana (primária)
sim
sim
Dia 3
Novo México (primária)
--
sim
Dia 3
Dakota do Sul (primária)
sim
sim

7. Quem são os concorrentes mais fortes até o começo das primárias?
Pelo menos sete pré-candidatos são apontados como concorrentes sérios nos dois partidos até o momento. Entre os republicanos, Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York; Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts; e John McCain, senador pelo Arizona, despontaram como os principais nomes, mas Mike Huckabee, ex-governador de Arkansas, virou o ano em alta nas pesquisas. Entre os democratas, Hillary Clinton, senadora por Nova York; Barack Obama, senador por Illinois; e John Edwards, ex-senador pela Carolina do Norte, lideram as intenções de voto. A possibilidade de outro candidato forte entrar na briga é quase nula. Em 2007, os principais alvos dos rumores nesse sentido foram o antigo vice-presidente Al Gore (democrata) e o ex-deputado Newt Gingrich (republicano). Agora já não há mais tempo para uma candidatura de última hora.

8. Qual é o favorito entre os pré-candidatos da oposição democrata?
Nome mais citado para a sucessão de Bush desde o pleito de 2004, a senadora Hillary Clinton é a figura de maior destaque entre os democratas. A mulher do ex-presidente Bill Clinton é mais conhecida que os rivais e tem o maior poder de arrecadação de fundos para campanha. Se eleita, será a primeira mulher a presidir os EUA. Nos últimos meses, contudo, ganhou fôlego na briga o senador Barack Obama, que empolga boa parte do eleitorado democrata pela juventude e carisma. Cresceu nas pesquisas com o apoio declarado da apresentadora de TV Oprah Winfrey. Se eleito, Obama será o primeiro negro na presidência. Nas pesquisas nacionais, Hillary virou o ano em primeiro lugar, com Obama em segundo e Edwards em terceiro.

9. Qual é o favorito entre os pré-candidatos republicanos (governistas)?
Entre os eleitores, o preferido até agora é Rudy Giuliani, ainda muito admirado pelo papel exercido como prefeito nova-iorquino depois do atentado de 11 de setembro de 2001. Nas sondagens nacionais, ele aparece em primeiro lugar entre os republicanos. Mas Giuliani, casado três vezes e dono de posições rejeitadas pela ala majoritária do partido, tem forte rejeição entre importantes líderes republicanos (além da oposição dos grupos religiosos que costumam apoiar seus candidatos). O preferido desses grupos seria John McCain, aparecia apenas em quarto lugar nas sondagens do fim de 2007. Além das marcas ruins nas pesquisas, o senador é considerado velho demais -- se vencer a eleição, tomará posse aos 72 anos. O segundo colocado no fim de 2007 era Mitt Romney, seguido por Mike Huckabee.

10. Qual será o papel de George W. Bush e Dick Cheney na eleição?
Se a popularidade do presidente continuar baixa, Bush deverá se afastar da campanha. Se recuperar pelo menos parte de sua aprovação popular, deverá subir ao palanque do candidato republicano para pedir votos e tentar garantir a manutenção do partido no poder. Em qualquer cenário, porém, Bush e Cheney serão personagens centrais da disputa. Os democratas deverão centrar fogo nos fracassos da gestão republicana. Os governistas tentarão defender as escolhas do atual presidente -- ou, numa jogada mais arriscada, criticar o próprio governo Bush e tentar ganhar votos com a insatisfação provocada pelo atual governo.

11. Qual é o peso da guerra do Iraque para a campanha presidencial?
Todos os analistas políticos americanos apontam a guerra como tema central da disputa presidencial de 2008. A crescente falta de apoio popular à presença americana no Iraque pode não só minar as chances de vitória dos republicanos como também derrubar a principal candidata democrata -- na época da invasão, Hillary Clinton apoiou Bush na decisão de atacar. Por isso, Barack Obama deve insistir no assunto para enfraquecer a adversária. Como o senador ainda não estava no Congresso quando os EUA atacaram, ele não tem histórico de votações favoráveis a Bush na questão. Nos últimos meses, Obama foi um dos principais críticos da guerra na política americana.

12. Quais são os outros temas em destaque na campanha até agora? Além da guerra e do combate ao terrorismo internacional, os candidatos e eleitores dedicam suas atenções aos assuntos internos. Ao contrário da última eleição, em que a guerra ao terror foi o tema dominante, a atual corrida eleitoral discute a política imigratória, o sistema de saúde, o combate ao desemprego e os acordos comerciais. Nos primeiros debates dos republicanos e democratas, as questões mais divisivas foram a imigração e a saúde pública. Alguns candidatos falam em conceder alguns direitos a imigrantes ilegais e oferecer sistema de atendimento médico a todos os cidadãos do país. Outros querem endurecer o combate aos ilegais e rejeitam mudanças na saúde.


13. Qual é a tendência sinalizada nas primeiras pesquisas de opinião?
Os números das sondagens realizadas em 2007 apontam para certo favoritismo dos democratas. Os candidatos do partido empolgam e mobilizam o eleitorado como havia muito não se via. A presença de Hillary e Obama na campanha atrai mais mulheres e negros para o debate político. Entre os republicanos, o problema é justamente a falta de empatia com os candidatos. Rudy Giuliani, o mais famoso e carismático, não agrada aos mais conservadores. As pesquisas realizadas até agora, contudo, significam quase nada. Com o sistema de colégio eleitoral, um candidato favorito disparado na eleição popular (no momento, a democrata Hillary) pode não conseguir vencer o pleito.

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14. Qual resultado é melhor para o Brasil? Democrata ou republicano?
Ainda não se sabe, já que as plataformas dos governistas e oposicionistas ainda são desconhecidas. Os governos republicanos geralmente são menos protecionistas do que os democratas, o que em teoria beneficia os produtores brasileiros que exportam para os EUA. Mesmo assim, os políticos democratas têm a simpatia de muitos setores importantes da política brasileira, enquanto a rejeição ao partido de Bush é grande no país. Apenas com a definição dos candidatos de cada partido será possível dizer ao certo qual cenário é melhor para os brasileiros.

2 comentários:

Luiz, Tavinho disse...

Adorei... Olha só moro em Paris, e aqui na escola eles tem uma aulo SociuEconomica, que no momento estuda sobre a politica americana! Eu estava "boiando" literalmente na aula... Mas graças a você agora eu sei tudo sobre o sistema politico nos EUA... entendi muito bem o que escreveste no seu blog!

OBRIGADO CONTINUE ASSIM! ABRAÇOS!

Unknown disse...

Gostei muito da forma clara e didática de como explicou sobre o sistema eleitoral americano.Parabéns.Regiane Costa