segunda-feira, 26 de maio de 2008

A desilusão de um professor – Por: Prof. Diogo Tobias Filho* 25/5/2008 - Prof. Diogo Tobias Filho


Falando sério, estou pensando em abandonar a carreira de professor. Já não o fiz porque me faltam alternativas profissionais para a sobrevivência. Acho que o mercado me rejeita por já ter ultrapassado os 40. Cansei de ouvir ditos demagógicos tipo “professor deveria ganhar bem” ou “minha profissão é sacerdócio”, até porque nunca senti ínfima vontade de enveredar pelo caminho religioso no meio de meia dúzia de moleques baderneiros, que estando na escola, alivia o suplício dos pais.

Há outros agravantes. Não mais suporto ministrar minhas aulas em escola pública, simplesmente porque elas não evoluem sem investimentos. Giz, quadro de cimento, carteiras remendadas, água da Caerd, exclusão digital e aqueles cadernos e apostilas do governo Cassol, pura propaganda política de quem é o símbolo da mediocridade na educação dentre os últimos governadores de Rondônia. A escola atual está parada no tempo e pela estrutura arcaica, beira aí duzentos anos de existência.

Admito que tenho de cortar na própria carne. Estou desiludido com tudo: o salário é ruim, as condições de trabalho deixam a desejar, o sistema de ensino é o mesmo, sempre protegendo quem consegue se imiscuir na famosa “panelinha”, cobrando excessivamente dos que realmente trabalham e nunca são valorizados. Antigamente havia número maior de profissionais dedicados, formados na própria área de atuação, enquanto hoje, chove de cursos superiores de qualidade duvidosa, virtuais, privados, prohacap, provendo de “canudos” alguns colegas cuja capacidade deixa a desejar.

Mas fazer o quê? Pagando esse provento não é de se esperar que tenhamos mestres e doutores lecionando no ensino fundamental e médio, exceto os defensores de teses nos cafundós do Paraguai. Resta-me bater papo com gente de toda espécie, advogado, contador, engenheiro, enfermeira, veterinário, etc. todos sem o menor preparo para trabalhar em sala de aula.

Como minha remuneração mensal é inferior até a do vendedor de espetinho, decidi ter a gesta, a desrazão de desaprender tudo que estudei, procurar usar a língua brejeira, recheada de “pobrema”, “menas”, “punhar”, “a gente fomos”, e outros erros crassos, popularescos, como o insuportável “seje” estourando meus tímpanos. Depois de passar a vida lendo Aristóteles, Plotino, Kafka, Machado de Assis e outros, anseio por ser realmente um zé-ninguém, aquele capadócio anônimo no ventre da arraia-miúda.

Certamente, terei mais chance de ser Presidente do Brasil ou, na pior das hipóteses, Governador de Rondônia.

*O autor é Professor de Filosofia em Ji-Paraná ( digtobfilho@hotmail.com )

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